Insubstituível Filme

Insubstituível | Se perde em um drama comum e não empolga


Insubstituível é uma tentativa pálida e sem foco em explorar as dores da medicina, de passar a vida salvando vidas, e se preocupando com elas. Nos apresenta Jean-Pierre (François Cluzet), o médico do interior que descobre que tem câncer, e Nathalie (Marianne Denicourt), a médica que vem para ajudá-lo a atender seus pacientes durante seu tratamento.

O filme se espalha em torno da rotina exaustiva de Jean-Pierre, ao mesmo tempo que mostra como ele conhece, depois de 20 anos exercendo a profissão, as particularidades de cada paciente seu. Em um primeiro momento ele parece protegê-los da novata, não como uma tentativa de se manter no controle, mas como uma forma sincera e honesta de demonstrar que ele é, conforme o título sugere, insubstituível para a comunidade.

A atuação de François Cluzet se torna sutil demais para o papel, algo que não fez muita diferença em Intocáveis graças à presença de espírito de Omar Sy. Porém, aqui, Marianne Denicourt, que deveria ser a versão mais leve e bem-humorada da parceria não dá conta do recado, já que ela parece precisar constantemente passar pelo crivo que colocou sobre si mesma. Enfermeira por dez anos e tendo cursado medicina tardiamente, Nathalie precisa provar não só que é capaz de gerar um diagnóstico, mas que consegue ganhar a confiança das pessoas que tratam com Jean-Pierre por tanto tempo.

O que se torna uma tarefa lenta e gradual, mas basicamente acessível. Até aí, nada de mais. Da mesma forma, a doença de Jean-Pierre não se torna necessariamente um problema do ponto de vista do filme conforme a colega avança. Ele não tem carisma o suficiente para competir com ela, então ele morrendo ou não, não fará diferença na história. Até porque, ao analisarmos o que está em jogo em Insubstituível é muito mais a comunidade de pacientes do que os médicos em si. E estes, seja por Nathalie ou por Jean-Pierre, sempre aparecem conseguindo ser atendidos, de um jeito ou de outro.

O roteiro escrito a quatro mãos prefere em vez de usar seus personagens como ligação do espectador com a trama parece exibir uma miscelânea de tipos diferentes de pessoas sendo tratadas pelo consultório particular. E aqui, mais uma vez, não há conflito principal, mas apenas uma série de mini-dramas do cotidiano. Se trata da menina que é abusada pelo seu namorado, do garoto que é tratado como deficiente mental mas pode ter autismo, do senhor de 92 anos que pretende morrer em paz em sua própria casa com seu cachorro do que internado e confuso. Retirando-se o drama, apenas um passeio pelo interior da França. Uma análise comunitária sem conseguir nos unir a ninguém em específico.

Insubstituível Crítca

E, se formos pensar, isso mais ou menos resume o trabalho de um médico. Nunca podendo estar disposto a criar laços com seus pacientes, ele é obrigado a se preocupar constantemente em qual a melhor forma de tratá-los sem sentir nada pessoal. E isso se torna sintomático para Pierre, já que ele não consegue sequer se relacionar de acordo, contando sobre seu problema de saúde, com a própria colega, que em breve poderá substituí-lo.

Já nos aspectos técnicos, a escolha da trilha sonora não poderia ser pior. Centrada em músicas empolgadas, dá impressão de estarmos vivendo uma aventura, quando o drama é pesado, e nunca parece dar uma pausa. Aliás, se trata de um péssimo marcador de tempo, junto do próprio filme, que consegue dizer apenas vagamente se passou um ano ou alguns meses. Já a fotografia é belíssima, e justamente por isso não tem muito a dizer. Há um mini-discurso de Pierre resumindo seu trabalho como lutar contra a natureza. Mas o que vemos a todo momento é sua beleza em volta. Afinal de contas, é o interior da França.

A verdade é que os personagens de Insubstituível não parecem se importar o suficiente para serem notados pelo espectador. A sutileza aqui dá vazão a um filme simpático e esquecível. O que é uma pena, se constatarmos que parece haver algo de muito sombrio, desgastante e deprimente na rotina de um médico, ainda mais convivendo com seus pacientes por décadas. Gostaria de ver mais uma história sobre isso, e não o drama comum da luta diária contra a força incomensurável da natureza, ganhando espaço a cada artéria aberta e a cada tumor que se espalha.


“Médecin de campagne” (Fra, 2016), escrito por Thomas Lilti, Baya Kasmi, Thomas Lilti, Khalladi Shérazade, dirigido por Thomas Lilti, com François Cluzet, Marianne Denicourt, Christophe Odent, Patrick Descamps, Guy Faucher


Trailer – Insubstituível

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