Independence Day: O Ressurgimento

Independence Day: O Ressurgimento | Mais ETs para acabar com o feriado dos americanos

Os aliens são interessantes, a mitologia é mais complexa do que no original e as cenas de ação são envolventes. Em compensação, o roteiro não tem estrutura, os personagens são inutilizados ou pouco carismáticos e os diálogos são, frequentemente, risíveis. É assim que se estabelece Independence Day: O Ressurgimento: como uma produção repleta de problemas que, apesar de tudo, consegue ser (moderadamente) divertida.

Depois dos acontecimentos  do filme original (dos quais eu, você e quase ninguém lembra muito bem, mas não tem problema — como esta sequência aposta forte no legado de seu antecessor, fica fácil lembrar os desenrolares da trama de 1996), a humanidade se uniu contra seu inimigo em comum e, nos 20 anos após a invasão alienígena, não engajaram em nenhum conflito armado. A tecnologia alien, por sua vez, foi incorporada para preparar os esforços de defesa, tanto na Terra quanto na base na Lua. Agora, os ETs estão de volta — e, claro, tudo é maior e mais explosivo.

Primeiramente, a sequência supera o original em termos de controlar o ufanismo desenfreado do filme de 1996. Aqui, a uma referência rápida ao fato de a última batalha acontecer em 4 de julho (o título, afinal, precisa ser justificado), mas o foco principal está na união do planeta contra o inimigo comum da humanidade. Mas esta ainda é uma superprodução hollywoodiana, ou seja, os Estados Unidos são o centro do mundo: a destruição de (pelo menos) dezenas de outras cidades ao redor do mundo (incluindo Londres) tem impacto nulo no filme, que não resiste em trazer a nave parando de cair na Terra a centímetros de destruir a Casa Branca.

E a suposta união dos povos e paz na Terra definitivamente é simbolizada pelo elenco diversificado de Independence Day 2, que traz mulheres em posição de poder e pessoas de diversas nacionalidades trabalhando lado a lado, sem que isso seja questionado. O problema é que esse objetivo da trama não foi compreendido por nenhum dos cinco (cinco!) roteiristas — e assim temos uma mulher (Sela Ward) como presidente do país mais poderoso do mundo para vê-la tomando apenas decisões erradas e, pior ainda, rapidamente tendo sua autoridade substituída por dois presidentes homens.

Da mesma forma, o objetivo de estabelecer Jake Morrison (Liam Hemsworth) como novo protagonista da “franquia” centra a narrativa em um de seus personagens mais desinteressantes. Angelababy por exemplo, é competente e carismática como a piloto Rain Lao, mas aparece e desaparece do longa sem maiores explicações. A Patricia Whitmore de Maika Monroe é a única personagem feminina que recebe um tratamento adequado, pois tem um arco bem estabelecido e, mesmo sendo noiva de Jake, seu principal relacionamento é com o pai (o ex-presidente vivido por Bill Pullman) — e a jovem é capaz de cuidar dele ou desafiá-lo conforme o necessário. O competente e respeitado piloto Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do personagem de Will Smith, também demonstra um enorme potencial inutilizado enquanto personagem — assim como a inteligente Catherine Marceaux de Charlotte Gainsbourg.

Independence Day: O Ressurgimento Crítica

Mas se o roteiro é irregular em termos de construção de personagens, isso é consequência da bagunça geral da trama, que dificilmente mostra algum semblante de estrutura. Assim, não há conexão entre os ocorridos: as coisas vão acontecendo, acontecendo, até que… a batalha final ocorre e o filme termina (com direito a abertura para uma sequência, claro). Personagens surgem e somem sem explicação — ou necessidade —, e elementos narrativos são acrescentados de qualquer jeito apenas para mover a trama. Além de tornar o filme pouco envolvente, esse grave problema também elimina qualquer senso real de urgência ou perigo.

Roland Emmerich, apesar de não conseguir impedir o filme de virar uma bagunça, ao menos constrói as cenas de ação com competência. Afinal, apesar de sua trama e seus personagens não terem sobrevivido na cultura pop, o fato é que Independence Day revolucionou os filmes-desastre, estabelecendo convenções que são utilizadas até hoje por Hollywood. Emmerich, entretanto, está pouco interessado em subverter essas convenções: em mais de uma ocasião, os personagens desta sequência sugerem tentar derrotar os novos invasores… fazendo exatamente o que foi feito há 20 anos.

Recorrendo a diálogos óbvios e embaraçosos como “Ela nos enganou!” e “É isso o que ele quis dizer com… ‘Ela é tudo’!”, Independence Day 2 é, pelo menos, minimamente ambicioso na forma com que desenvolve seus alienígenas. Criados a partir de efeitos digitais competentes que tornam seus movimentos sempre interessantes de acompanhar, os alienígenas ganham mais detalhes sobre suas origens que demonstram os agitados acontecimentos do universo — mesmo que, é claro, as novidades mais interessantes sejam “guardadas” para a desejada próxima sequência.

Assim, Independence Day: O Ressurgimento é uma produção que desperdiça seu potencial, pois uma superprodução com alienígenas interessantes e ambientada em um 2016 livre dos preconceitos e barreiras que ainda nos assolam teria tudo para ser um exemplar memorável do gênero. Entretanto, mesmo que se proponha a criar essa sociedade alternativa, a equipe não se livra de suas próprias amarras — e cai nas próprias barreiras que ambiciosa superar. Os alienígenas, pelo menos, parecem ter sido pensados com mais imaginação.


“Independence Day: Ressurgence” (EUA, 2016) escrito por Nicolas Wright, James A. Woods, Dean Devlin, James Vanderbilt e Roland Emmerich, dirigido por Roland Emmerich, com Liam Hemsworth, Maika Monroe, Jessie T. Usher, Jeff Goldblum, Sela Ward, Charlotte Gainsbourg, Angelababy, Bill Pullman e Judd Hirsch.


Trailer – Independence Day: O Ressurgimento

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