Homem-Aranha no Aranhaverso | Com grandes poderes… vem um monte de “Homens-Aranhas”

Pode ser exagero dizer que Homem-Aranha no Aranhaverso é o filme que melhor conseguiu levar para as telas o clima dos quadrinhos. Mas talvez isso nem seja uma afirmação tão exagerada e com certeza cabe nas pretensões do trio de diretores Bob Pesichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman.

Três diretores porque afinal, você sabe, “com grandes poderes…” e tentar transportar para as telas uma adaptação tão nova e que quase não pode ser comparada com nada é uma baita responsabilidade. Ang Lee já tinha tentando “brincar” de quadrinhos em seu Hulk, assim como Scott Pillgrim Contra o Mundo, de Edgar Wright, chega muito perto da HQ, mas é espalhafatoso e óbvio em suas decisões. Homem-Aranha no Aranhaverso é sutil e te leva aos poucos pra dentro do gibi.

E não estamos falando de um desespero, mas sim em usar à seu favor a linguagem e criar, isso sem medo de exagero, o melhor filme do Homem-Aranha nos cinemas. Não somente pelo visual, que conta bastante, mas também pela capacidade do roteiro de Phil Lord e Rodney Rothman de entender as necessidades do personagem. Não só de um Homem-Aranha, mas de todos eles.

A história pode parecer complexa, mas na verdade é extremamente simples. Ao que tudo indica, existe somente um Homem-Aranha, até que o jovem Miles Morales também é picado por uma aranha radioativa e ganha algumas habilidades semelhantes às do “amigão da vizinhança”. O desespero desse primeiro momento o leva a presenciar um plano maléfico do Rei do Crime de chafurdar nas outras dimensões, mas ele é impedido pelo Homem-Aranha, que acaba levando a pior e morrendo.

O que parecer ser o fim de uma era é na verdade o começo de uma enorme bagunça, já que Morales não irá simplesmente herdar o manto do Homem-Aranha, mas terá ainda que ajudar mais cinco versões do Homem-Aranha vindas de outras dimensões a voltarem para casa.

No fundo, … no Aranhaverso é sobre a jornada de Morales e no como ele irá se tornar o novo Homem-Aranha de sua dimensão, mas para isso, ele, principalmente, tem a ajuda de um Peter Parker de outra dimensão, “meio inchadinho” e que está bem longe da sua fase áurea como herói de Nova York.

É esse Homem-Aranha que serve de mentor para Miles Morales, por mais que não parece estar ensinando nada, uma dinâmica deliciosa e que mostra o quanto, quando bem caracterizados, um monte de Homens-Aranhas (com uma Mulher-Aranha e um robô) nunca são um problema.

Se isso parece complicado, não se preocupe, assim como o Homem-Aranha do universo de Morales começa o filme com uma pequena montagem “como me tornei o Homem-Aranha”, todos outros heróis ganham sua chance de terem seus próprios flashbacks, e cada um mais divertido que o outro.

E talvez “diversão” seja o melhor adjetivo de …no Aranhaverso. Tanto com a história, cheia de ação e personagens incríveis, como ainda com o modo como tudo é construído. Balões de pensamento pulam pela tela, assim recordatórios e onomatopeias cortam o ar, tudo enquanto uma animação linda e que conversa diretamente com as páginas das HQs flui sem interrupção.

Tudo isso fica ainda mais bacana quando os outros Homens-Aranhas surgem e mantém cada um seu próprio estilo de animação. Penny Parker, vinda diretamente dos animes, não deixa nunca que o visual ocidental da animação a tire de algum lugar do Japão, assim como o divertidíssimo Homem-Aranha Noir, sempre em Preto e Branco (e exagerado). Além, é claro, do Porco-Aranha, vindo diretamente de algum a animação infantil ao melhor estilo Pernalonga.

E se isso parece muita coisa para você, fique sabendo que …no Aranhaverso ainda faz questão de passar por quase todas fases do aracnídeo nos cinemas, prestando uma belíssima homenagem a todas essas versões. E falando em homenagens, fique com os olhos bem abertos para conseguir captar o caminhão cheio de referências que farão a felicidade de todos os fãs do personagem. Sem esquecer, é claro, aquela que para muitos pode acabar sendo a mais significativa e emocionante participação de Stan Lee em um filme de personagens da Marvel, não só pelo seu falecimento, mas mais ainda por podermos ver o ex-editor da Marvel encarnando um personagem que resume em poucas palavras aquilo que melhor consegue representar o Homem-Aranha.

Falando em homenagem, para quem já é iniciado nos quadrinhos, é impossível não enxergar a óbvia referência à Bill Sienkiewicz no Rei do Crime gigantesco com a cabeça desproporcional no meio do corpo. Mas isso fica apenas como um easter egg, daqueles que completa toda incrível experiência de … no Aranhaverso.

Sobre tudo isso ainda está um filme cheio de algumas das melhores e mais empolgantes cenas de ação que você verá no cinema nos últimos anos. Não só pela inventividade dos diretores e suas capacidades de entender que tem em mãos uma animação e podem colocar suas câmeras onde quiserem, que é o que fazem, mas também pelo carinho com que cada uma das cenas é tratada.

É catártico acompanhar Miles Morales saltando por Nova York pela primeira vez, com o horizonte se invertendo e dando ao espectador uma das cenas mais bonitas do ano. Enquanto você acompanha essa jornada e torce por ele, entende a importância daquele momento e embarca com ele naquele instante de liberdade.

Do mesmo jeito que o espectador irá se divertir com a incrível dinâmica entre Morales e o outro Homem-Aranha enquanto fogem de uma instalação, lutam com uma versão do Doutor Octopus (“Doutora”, na verdade) e o aspirante a Homem-Aranha precisa entender como funciona o lançador de teias e seus novos poderes. Tudo isso em uma animação estonteante e um roteiro que entende o quanto é importante manter seus Homens-Aranhas falando até no meio do maior dos perigos.

Miles Morales é o Homem-Aranha perfeito para uma nova geração, e isso sempre foi dito desde sua criação nas mãos de Brian Michael Bendis e Sara Pichelli. Sua relação com os pais é incrível e essa impressão de dar de volta à um novo público o mesmo Homem-Aranha que fez com que décadas atrás uma outra geração se apaixonasse por ele é algo que não tem preço. Homem-Aranha no Aranhaverso sabe disso e é exatamente isso que faz… ao mesmo tempo que, é claro, se tornar o melhor exemplo de como levar para as telas do cinema o clima das HQs, e porque não, ainda fazer isso enquanto entrega o melhor filme do Homem-Aranha. Pode parecer exagero, mas acredite, não é.


“Spider-man: Into the Spider-Verse” (EUA, 2018), escrito por Phil Lord e Rodney Rothman, dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman, com vozes no original de Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Sateifeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Zoe Kravitz, Nicolas Cage, Liev Schreiber e Chris Pine.


Trailer do Filme – Homem-Aranha no Aranhaverso

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