Fuga Filme

Fuga | Como uma neblina na floresta


[dropcap]F[/dropcap]uga possui uma ideia fascinante a respeito de identidade, mas parece estar disposto a desperdiçar com uma narrativa lenta e repetitiva em torno de um mistério bobo como em tantos outros filmes. Resta o exercício narrativo, mas isso é tão pouco que passa desapercebido.

Começando com sua temática rica do som suplantar nossas memórias, aumentando o som em alguns momentos para dar a sensação de desorientação como nessa cena inicial, vemos saindo de um túnel de trens subterrâneos uma mulher que parece atordoada. Suja, mas de salto, ela caminha pela plataforma até decidir abaixar sua meia-calça e começar a urinar ali mesmo. Ela passou por um trauma e esqueceu quem é, mas sua família a encontra. Ela tem mãe, pai, marido e um filho pequeno, Daniel, mas não se lembra de nada disso e sua personalidade não é mais de alguém que use salto alto ou cabelos longos.

O processo de ressocialização com a família possui um ar de mistério óbvio, mas como se trata de um exercício também para a família os poucos diálogos e o tempo estendido se faz necessário. Notamos como não é fácil passar a existir em uma vida que não tínhamos ideia, como uma pessoa em que não nos reconhecemos.

Fuga trata da transformação da mulher na sociedade, mas arranha muito mal o tema, não desenvolve a personagem (nenhum deles) para comparação com o antes e depois. Ele tenta ser universal, mas se esquece de primeiro nos envolver com uma história mais pessoal. De fotografia fria e quadros externos onde a natureza oprime o indivíduo, ele exalta a solidão, mas não nos dá motivos para refletir. É uma narrativa itinerante que nos esquecemos logo depois como a vida da heroína. Um filme que não passa de neblina na floresta.

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


“Fugue” (Pol/CZE/Sue, 2018), escrito por Gabriela Muskala, dirigido por Agnieszka Smoczynska, com Gabriela Muskala, Lukasz Simlat, Malgorzata Buczkowska.

Trailer – Fuga

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