Tudo pode Dar Certo

por Vinicius Carlos Vieira em 25 de Outbubro de 2010

Como poucos na indústria do cinema, Woody Allen é daqueles operários padrões, que, entra ou sai verão estão lá, fazendo seu trabalho do mesmo jeito a um bom tempo. Bem verdade, vez ou outra o corriqueiro dá lugar à obra de arte, mas, em quase nenhum situação o mesmo se faz menos que, na medida. “Tudo Pode dar Certo” não ficará no panteão de sua filmografia, mas ocupará um lugar bacana no meio de toda ela.

Até por que, de um jeito totalmente Woody Allen de ser, “Tudo Pode Dar Certo” poderia muito mais se considerado um exorcismo de idéias do que uma história propriamente dita. Como se o novayorquino Allen precisasse dar um tempo daquele cineasta do mundo, que filmou na Inglaterra e na Espanha, mas agora precisa voltar para seu jardim. Tanto isso, como uma ferramenta para discutir algumas idéias que pareciam presas em algum canto de seu cérebro, portanto, o melhor é não esperar uma sensível história de amor, mas sim mais uma verborragia histérica a lá Woody Allen.

Nela, Larry David (um dos criadores da série “Senfield”) é Boris, um cinqüentão gênio, “considerado para o Premio Nobel de física” que vive sozinho em Manhattan, separado da mulher, mancando por uma tentativa incompetente de suicídio e como uma vontade imensa de falar tudo que lhe vem à cabeça. Aparentemente, sua rende vem de algumas aulas de xadrez para crianças, o que poderia facilmente ser comparado à pura humilhação infantil, afinal se ele não mostrar o mundo real para elas, quem vai.

Em uma história normal, nesse momento tudo mudaria quando ele dá de cara com uma jovem pouquíssimo inteligente vinda do Mississipi para ganhar a vida em Nova York, mas na história de Allen, tudo simplesmente continua a ser o que era, só que agora com um pessoa que pouco entende tudo que ele fala. Não uma reviravolta, mas sim uma espécie de ironia diante de toda situação. Ela, vivida por Evan Rachel Wood, é linda, loira, inocente e simpática, enquanto ele é o total oposto disso tudo, e mesmo com ela se apaixonando por ele, sua reação é analítica, racional, chata e sem emoção (ainda que, em certo momento ele descubra uma certa independência emocional dela, mas nada que dê simpatia a seu personagem).

Mas como o próprio Boris fala sua platéia, quebrando a quarta parede enquanto as pessoas à sua volta não entendem por que ele está falando sozinho, “Esse não é o filme alegre do ano, e se você quer se sentir alegrinho, vai procurar uma massagem nos pés”.

Mas erra um pouco quem pensa que esse Boris é apenas um outro Woody Allen, como talvez Jason Biggs tenha encarnado em “Igual a Tudo na Vida”, o Boris de David é muito mais uma faceta de Allen, um pedaço de sua personalidade revoltado com o mundo e, por conseqüência, com todos seus moradores. Uma combinação que faz dele, o melhor Allen que o cinema poderia ter (depois do próprio, lógico) muito por seu jeito ranzinza (que repete em sua série “Curb your Enthusiasm”) e sua presença meio deslocada, mas muito mais por Allen parecer mais a vontade em criar um personagem forte o bastante para carregar seu filme inteiro só com sua presença.

Tanto isso fica claro que, é só a trama se afastar de sua falta de educação e tolerância, tentando amarrar um pouco mais um conflito eminente, onde o casamento dos dois é colocado em perigo que, instantaneamente o filme perde sua força. Muito provavelmente por mais nenhum personagem ser interessante o suficiente, mas, mais ainda, por ficar claro que, a única coisa interessante do filme é ver até onde Boris pode ser ultrajante com todos a sua volta. O quanto ele conseguirá demonstrar sua genialidade para as mentes menos ricas que a dele.

E ainda que seja quase impossível simpatizar com ele, e isso não acontece (do mesmo jeito que os “heróis” vividos por Allen quase nunca são), porém, cria uma identificação com o espectador, já que do lado de cá, pelo menos, se tem a certeza de que ele também não simpatizaria com ninguém

E se em certo momento Boris opta pelo caminho mais curto dizendo que “às vezes o clichê é o melhor jeito de demonstrar um ponto” e Allen faz exatamente isso para discutir tudo aquilo que, por alguma razão queria que os outros ouvissem ainda que para isso vá de encontro ao lugar comum, em Nova York, verborrágico, com uma história de amor esquisita e esquizofrênica, algumas boas risadas, muitos diálogos e um filme descartável (que parece ser o seu plano), sem se tornar esquecível.

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Whatever Works (EUA, 2009), escrito e dirigido por Woody Allen, com Larry David, Evan Rachel Wood , Patricia Clarkson e Ed Begley Jr.

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2 Comentários. Deixe novo

  • Vinicius Carlos Vieira
    30/10/2010 21:28

    pode me procurar no vvinicius@hotmail.com (que também é msn) ou no vini.vm@gmail.com

  • Lucas Melo
    26/10/2010 18:59

    Olá, Vinicius, tudo bom?

    Não encontrei nenhum outro meio de contato no site, então vou escrever aqui mesmo.

    Sou estudante de jornalismo e entrevistei o Marcelo Rosendo, da Paradiso, para uma matéria de revista. Meu assunto é sobre locação de filmes pela internet. No meio da conversa, ele citou que você é cliente deste tipo de serviço. Preciso fazer uma entrevista com alguém assim como você.

    Aguardo um retorno.

    Obrigado.

    Se quiser, depois de ler, apaga.

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