Somos Tão Jovens

Não há dúvidas que Renato Russo merecesse um filme só dele, assim como a incrível canção Faroeste Caboclo também provavelmente se mostre digno da adaptação que ainda estreia esse ano, mas é uma pena que o líder da Legião Urbana acabe resumido somos-tao-jovens-postera um desastre como Somos Tão Jovens. Tremendamente aquém diante da figura mítica do cantor.

Pior ainda, injusto ainda com um dos momentos mais importantes da música brasileira, o surgimento do punk/pós-punk no começo dos anos 80 em Brasília, movimento que fomentou o rock durante a ditadura, serviu de inspiração para toda geração da década e que nas mãos do roteirista Marcos Bernstein (que curiosamente fez um trabalho muito melhor em uma outra biografia, Chico Xavier – O Filme) acaba sendo apenas um cenário apagado para um personagem pouco empolgante.

Renato (um esforçado Thiago Mendonça), antes de ser Russo, nas mãos tanto de Bernstein quanto do diretor Antônio Carlos da Fontoura, é apenas um jovem professor de inglês sonhador e tremendamente mimado (a resposta que dá a um aluno em uma de suas aulas inicia um caminho que só piora) que descobre no punk londrino sua nova inspiração de vida. Um modo de combater o ócio de Brasília (“escola e depois ir fumar no bloco”) e extrapolar sua poesia e sua música.

E ainda que grande parte desse começo se esforce apenas para desenhar essa personalidade (em vão), também serve para retratar a criação do Aborto Elétrico, banda que iniciou todo movimento e contava com Russo, Fê e Flávio Lemos (dupla de irmãos que depois fundou o Capital Inicial). O tiro no pé começa ai, já que a banda, em termos históricos, seria muito mais interessante que só a figura do cantor, a relação dele com os irmãos poderia ser muito mais intensa (principalmente por amar um e se desentender com o outro), a presença de Fê poderia ser muito mais profunda que só a de um playboy/vilão/babaca e, por fim, tudo isso junto poderia resultar em algo muito menos bobo e infantil que Somos Tão Jovens.

Um filme que parece delimitado apenas a fazer a alegria de um punhado de fãs que se sentirão satisfeitos com uma montanha de referências vazias às músicas do cantor, e não a um retrato mais intenso do personagem, do cenário, ou até do Brasil. Por meio de uma série de pequenos easter-eggs (surpresinhas) o espectador vai ter que engolir os personagens citando momentos de certas músicas (“festa estranha com gente esquisita”, “Rockonha” etc.), ao invés de poder se divertir com a formação daquela personalidade, como no divertido momento em que Renato Russo entra em depressão pela morte de John Lennon, mas que é único dentro desse monte de bobeiras.

Somos Tão Jovens

Sem perceber que Somos Tão Jovens poderia atingir em cheio todo mundo que entrasse no cinema já predisposto a se divertir com a história do cantor, a dupla Bernstein e Fontoura preferem então encher o filme de diálogos expositórios idiotas do que apostar nas lendas e causos que marcaram aqueles momentos. Tanto do cantor quanto daquele cenário e daquela árvore genealógica que Renato Russo entrega para um jornalista em certo momento do filme. Como se diante de um assunto tão vasto e cheio de nuances e detalhes deliciosos preferissem pegar um caminho pragmático e sem emoção.

Uma dura ironia que acaba fazendo com que o filme inspirado na vida de um dos maiores compositores/poetas da história da música brasileira acabe ficando preso em um filme sem coração, que só sabe repetir o esforço do ainda jovem punk a “estragar” todas as festas com sua fita cassete do que tentar entender que tipo de mundo o movia a fazer isso. Renato Russo, o Aborto Elétrico, e até o Legião Urbana (além de mais um monte de personalidades que “criaram” aquele movimento) passam por Somos tão Jovens e não deixam nada que valha a pena, bem diferente daquilo que representaram de verdade.


idem, escrito por Marcos Bernstein , dirigido por Antonio Carlos da Fontoura , com Thiago Mendonça, Marcos Breda, Sandra Corveloni, Laila Zaid, Bruno Torres e Daniel Passi


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