A Entidade

Não deve ser muito difícil fazer um filme de terror. Lógico, deve ser difícil fazer obras primas como O Iluminado ou O Enigma do Outro Mundo, mas chegar em um resultado medíocre e apenas satisfatório (como milhões de outros exemplos e serial killers/demônios matando gente por ai) não deve ser tão difícil assim. Pelo menos não devia, que não é o que acontece com o esforçado A Entidade.

E esse é, justamente, seu maior problema: o esforço.

O responsável por ele é Scott Derrickson que, é verdade, acabou de dirigir a porcaria da refilmagem de O Dia Em Que A Terra Parou, mas têm em seu currículo alguns filmes de terror que facilitariam sua vida, como o interessante “O Exorcismo de Emily Rose” e uma das inúmeras sequencias de Hellraiser (o Hellraiser: Inferno, direto para as locadoras). Entretanto, sem aprender consigo mesmo, em A Entidade parece gastar tempo demais tentando contar uma história que acaba sendo resolvida de modo óbvio e pouquíssimo interessante. E como, em se tratando de cinema, “a última impressão é a que fica”, isso é um convite para que o espectador saia frustrado das salas de cinema.

Mesmo depois de alguns sustos, uma música sinistra, um vilão sobrenatural esquisito, algumas criancinhas mórbidas e umas fitas macabras, A Entidade ainda decepciona pelo caminho reto e esquemático que a história (que também é escrita por Derrickson) decide seguir. Problema que acaba permitindo que todos esses artifícios sejam desperdiçados, mesmo que funcionando bem dentro de seus momentos.

Na história, Ethan Hawke é um escritor especializado em obras que investigam grandes crimes dos Estados Unidos, mas com apenas um grande sucesso. Por isso que agora ele e sua família se mudam para uma casa onde ocorreu um assassinato ainda sem solução, mas que acaba se tornando o seu tormento, já que descobre que talvez a antiga família não tenha morrido de forma tão natural assim. O escritor então dá de frente com uma esquisita entidade que parece estar envolvida em mais alguns crimes chocantes, e ele e sua família podem acabar sendo as próximas vítimas.

Mas como outro parágrafo já “fala”, o problema é o esforço, principalmente diante de uma história tão simples como essas, que dá pouco espaço para qualquer outro solução e, a não ser que espectador durma durante a maior parte do filme, vai fazer com que todos no cinema soltem um “sabia!” assim que o filme acabar. Um “sabia!” frustrado, já que, durante longas e arrastadas quase duas horas, ainda tem tempo de sobra para enfrentar as decisões óbvias do diretor.

É difícil ser raptado para dentro uma história de terror onde o protagonista vive em um clichê grande o suficiente para só trabalhar durante as madrugadas e ter a mania inexplicável de rumar por corredores e quartos completamente escuros da casa, mesmo achando que está sendo perseguido por um demônio que “come criancinhas” e um projetor de Super 8 com vida própria. Na empolgação de criar um terror eficiente em sua sobrenaturalidade, A Entidade esquece-se de colocar seu protagonista ou mais medroso, ou mais cético e até mais corajoso e que acaba apenas mais burro. Mesmo com toda experiência em investigação criminal, não perceber a ligação entre os assassinatos, ainda que em certo momento um policial lhe diga ao telefone e ele até perceba a relação, mas “esquece” (para o bem da história) e preferir continuar em frente é um tiro no pé que afasta o público completamente.

O interessante disso é que A Entidade, realmente, durante a grande maioria do tempo satisfaz quem vai ao cinema em busca de um pouco de terror, principalmente quando encontra um jeito criativo de explorar algumas filmagens amadoras onde acontecem assassinatos a sangue frio (e que realmente gelam até a alma). Momentos que elevam demais o clima do filme e se fossem mais bem usados, provavelmente, resultariam em um filme muito mais chocante e incômodo. Mas isso não acontece, justamente, por não perceber que a esquematização desses momentos torna o filme quadrado e entediante. Chegou a noite, escutou o barulho do filme em seu escritório, barulho do assoalho e um ou outro susto. Um esquema engessado demais e que todos acabam aprendendo a prever depois da primeira noite. E prever um susto é o maior remédio contra um filme de terror e a primeira lição que todo filme do gênero devia de aprender.

Realmente não deve ser tão difícil assim fazer um filme de terror, mas, no final das contas o que fica claro é que sustos, um demônio e algumas criancinhas não enganam mais ninguém.


Sinister(EUA, 2012) escrito por Scott Derrickson, dirigido por Scott Derrickson , com Ethan Hawke, Juliet Rylance, Fred Dalton Thompson, James Ransone e Clare Foley.


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