300: A Ascensão do Império

300: A Ascensão do Império

Há oito anos, o diretor Zach Snyder lançou o eficiente 300, adaptação da graphic novel de Frank Miller que, mesmo com seu roteiro raso, funcionou principalmente por seu visual estilizado. Ressaltando a violência daquele universo e, claro, sua origem nos 300: A Ascensão do Impérioquadrinhos, a fotografia em tons cinza e sépia destacava o sangue constantemente presente na ação, e mesmo a câmera lenta foi bem utilizada para realçar detalhes das eficientes sequências de batalhas. Pena que a sequencia 300: A Ascensão do Império vai ainda menos além disso.

Substituindo Snyder (que, desta vez, assina o roteiro ao lado de Kurt Johnstad) na direção, o novato Noam Murro não vai além de imitar a estilização do original, o que, por um lado, é necessário para manter uma unidade entre os dois filmes mas, por outro, não é mais suficiente para sustentar o longa por si só. Mais uma vez baseado na graphic novel de Miller, A Ascensão do Império mostra eventos antecedentes e simultâneos à ação vista no primeiro filme. Assim, acompanhamos o início da campanha dos persas contra os gregos e a busca por vingança da Rainha Gorgo (Lena Headey) depois da morte de Leônidas. Enquanto 300 mostrava a batalha do rei de Esparta, ao lado de sua guarda pessoal de 300 homens, contra o exército de Xerxes (Rodrigo Santoro), desta vez a batalha é no mar, e quem se enfrenta são o comando naval persa, liderado por Artemísia (Eva Green), e o exército guiado por Temístocles (Sullivan Stapleton), visto como herói desde que matou o rei persa Darius dez anos antes.

Mais uma vez, o roteiro não se preocupa muito em desenvolver seus personagens, e simplesmente explica o que aconteceu com eles ao invés de realmente trabalhar em suas motivações e sentimentos. A ideia de pais e filhos lutando lado a lado é mais uma vez abordada, assim como a cumplicidade entre os soldados de um exército.

As relações entre os homens são o principal, mesmo com duas personagens femininas de destaque, Artemísia e Gorgo. A rainha é a narradora do longa, mas tem pouco tempo de tela (pelo menos, quando aparece, participa da – importante – ação). Já Artemísia, apesar de ser a personagem mais bem desenvolvida de A Ascensão do Império – sabemos suas motivações e o que a impulsiona à batalha, a ideia de enfrentar a Grécia é dela e, através de um flashback, descobrimos o abuso sofrido por ela na infância nas mãos de um exército grego que, depois de ser largada e dada como morta, foi resgatada e treinada pelos persas, tornando-se, quando adulta, protegida do rei. Uma boa personagem interpretada com competência por Eva Green e, portanto, o tratamento que ela recebe na narrativa é frustrante – mesmo sendo uma estrategista brilhante (e tendo passado anos de sua infância sendo estuprada), ela tem que recorrer à sua sexualidade para derrotar Temístocles e, quando ele rejeita sua proposta de comandar a seu lado, o filme claramente tenta transformá-la em uma mulher enfurecida por esta rejeição, e não pelo fato de que seu último recurso para derrotar os gregos falhou (como indica a fala do soldado: “Da próxima vez que a encontrarmos, ela trará o inferno.”).

300: A Ascensão do Império

E não ajuda que o protagonista seja um personagem que não inspira a mínima simpatia ou confiança do espectador; encarnado sem o mínimo carisma por Stapleton, é difícil realmente torcer para a vitória de um exército comandado por um soldado estúpido e inconsequente, características nunca reconhecidas pela narrativa ou pelos outros personagens.

Tecnicamente eficiente (mesmo que, como já dito, limitando-se ao estilo do original), Murro aproveita bem o cenário repleto de água de suas batalhas e, assim, cria sequências eficientes, como o momento em que os barcos persas aparecem pela primeira vez para enfrentar o círculo formado pelas muito menores embarcações gregas. O sangue continua sendo ressaltado através da câmera lenta mas, aqui, não tinge a tela com um vermelho vivo, por ser noite – o cenário noturno é bem empregado na sequência inicial, quando a capa azul de Temístocles é a única cor à vista.

Mais limitante, porém, é a estrutura narrativa de Ascensão do Império, também basicamente igual à do original: um exército em clara desvantagem (desta vez, não apenas pelos números muito inferiores, mas também pela experiência nula em batalha daqueles homens) tem que derrotar o poderoso inimigo. Dependendo de sua honra, coragem e inteligência – o que o filme não se preocupa em desenvolver -, eles se mostram um oponente à altura. Não é à toa que os espartanos protagonizem o clímax do filme.

Este novo longa então trabalha à sombra do original, sem perceber que até poderia ser algo mais se aproveitasse e perdesse algum tempo desenvolvendo suas novas situações e personagens. O longa, ao menos, não se leva muito à sério, e parece reconhecer que são as belas cenas de batalha que manterão o espectador atento (porque, afinal, é difícil se importar com os outros aspectos, já que nem os próprios realizadores o fazem), e acertam no momento em que encerram o filme que, portanto, é um passatempo eficiente, mas nada mais do que isso.


“300: Rise of an Empire” (EUA, 2014), escrito por Zack Snyder e Kurt Johnstad, dirigido por Noam Murro, com Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey, Hans Matheson, Callan Mulvey, David Wenham, Rodrigo Santoro, Jack O’Connell e Igal Naor.


Trailer do filme 300: A Ascenção do Império

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