Chernobyl

Sim, existem filmes “incriticáveis”, como blockbusters e qualquer adaptação literária envolvendo vampiros que brilham, já que, independente do que seja dito o público irá sempre renegar qualquer opinião especializada apontando “preconceito profissional”. O Chernobyl Posterque esse tipo de filme não sabe, é que também existe um tipo de filme que, sem muito esforço, consegue ser praticamente “incriticável”, já que seria injusto analisar à fundo filmes de terror descartáveis como Chernobyl.

Não que a chamada “crítica especializada” seja condescendente com esse tipo de gênero, mas tudo ao seu redor já foi tão mastigado, reciclado, remodelado e repensado em quase quatro décadas de assassinos seriais matando jovens perdidos, que é difícil encontrar algo novo. E criticar alguma produção desse tipo por não ser surpreendente seria o mesmo que apontar o número muito grande de diálogos em um filme do Tarantino com um defeito.

Portanto, ninguém, provavelmente, entrará no cinema para ver essa produção escrita pelo mesmo Oren Peli que criou a franquia Atividade Paranormal esperando muito mais que alguns sustos. Ainda mais quando se descobre que Peli escreveu Chernobyl em parceria com um tal de Shane Van Dyke, (absolutamente nada) conhecido por ter dirigido produções como Titanic II e, ironicamente, a copia escrachada Paranormal Entity, além de ter escrito as pérolas Transmorphers: Fall of Man, The Day the Earth Stopped e Street Racers, cujas semelhanças com certas produções de Hollywood são “meras coincidências”. Uma combinação que, pelo menos, tem tudo para divertir os fãs.

Na história, então, um casal e uma amiga viajam pela Europa até encontrarem com o irmão do rapaz na Rússia, que acaba convencendo o grupo a embarcar em uma espécie de “turismo radical” em um lugar chamada Prypiat, vizinha da cidade título do filme e que foi abandonada às pressas depois do acidente com a usina nuclear. Acompanhados de um guia russo, Uri (com cara de capanga de filme do 007 e trajando o “uniforme” padrão do vilão moderno do leste europeu, com um casaco da Adidas sobre um outro com a gola para fora) e ainda uma casal em lua de mel, o grupo acaba ficando preso no meio dessa cidade, só que logo acabam descobrindo que, talvez, não estejam tão sozinhos e a tal Prypiat seja uma espécie de filial do Texas ou do deserto de Nevada (se e que você, fã de terror, me entende).

Fazer disso algo minimamente decente acaba ficando nas mãos de Bradley Parker em seu primeiro filme como diretor, que, para surpresa geral, parece tremendamente esforçado em não deixar que seu Chernobyl caia na vala comum dos filmes de terror moderno. É lógico que em certo momento tudo vira uma correria sem sentido com um inimigo invisível que trucida um a um os jovens que tiveram a infeliz ideia de não escutar o soldado na estrada dizendo para não entrarem em Prypiat, mas o que seria dos filmes de terror sem a teimosia e a burrice de um grupo de futuras vítimas?

Mas enquanto isso não acontece, Parker acaba entregando um trabalho interessante, que sabe valorizar o tom fantasmagórico da cidade abandonada e, em uma sequência bem divertida e tensa, permanece enclausurado com sua câmera junto dos sobreviventes desesperados. Melhor ainda, mantendo os vários planos longos que usa pelo filme, acompanhando de longe (ainda de dentro da van) dois dos personagens indo para um destino incerto, mesmo que obviamente trágico, preferindo muito mais a tensão do escuro, dos gritos, dos flashs dos tiros e da dúvida do que mostrar simplesmente o primeiro ataque.

Chernobyl Filme

Ainda elogiando Parker (enquanto é possível), entre piranhas-ratioativas-mutantes (que pouco/nada são usadas depois de serem apresentadas) e um turista australiano apontando um celular com cara de velho e sem definição por onde passa, o diretor ainda parece se divertir com alguns clichês do gênero, tanto clássicos quanto modernos. De um lado, deixando claro que filmagem amadora com celulares (muito menos o do australiano) é coisa de viagens de férias e pedido de casamento (e se quiser ver isso, vá em um tablet!), não de filme de terror; do outro, lembrando que em uma situação dessas, você (personagem prestes a virar defunto) não vai perder tempo tentando entender do que está fugindo e sempre vai ser interrompido por uma sombra, um idioma ou alguém pronto para te matar.

E se isso acaba fazendo com que o espectador acabe o filme cheio de dúvidas sobre o que são aquelas pessoas, zumbis ou sei lá o que (ainda que em certo momento Parker “brinque” de mortos-vivos, com mãos surgindo pelas frestas de uma janela), quem está no cinema acaba mesmo um pouco irritado pela conclusão simplista e preguiçosa, além da ausência total de mortes “on screen”, o que é sempre um problema para os fãs do gênero, em buscas de muito sangue, vísceras e surpresas. O maior problema disso é então, que os “vampiros brilhantes”, robôs/carros e mais um monte de campeões de bilheteria acabem descobrindo isso e comecem a encher seus filmes de zumbis e gores em geral. Se bem que isso não seria uma má ideia.


Chernobyl Diaries(EUA, 2012) escrito por Oren Peli e Carey e Shane Van Dyke, dirigido por Bradley Parker, com Ingrid Bolso Berdal, Dimitri Diatchenko, Olivia Dudley, Devin Kelley, Jesse McCarthy, Nathan Phillips e Jonathan Sadowski.


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