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Avatar | Um marco do cinema

Antes de qualquer coisa, é bom lembrar o quanto o nome James Cameron, vulgo “o mesmo diretor de Titanic”, é importante para a ficcção científica, com um legado para o gênero muito maior do que jamais o “Rei do Mundo” deixará para as gerações. É das mãos dele que os dois primeiros Exterminadores do Futuro, Alien 2 e O Segredo do Abismo nasceram, foram e serão, sempre, apontados por muitos como clássicos do gênero, assim como, desde já ganharão a companhia de seu novo filme, Avatar.

O mais legal disso, é que todo cinema irá ter essa impressão com menos de cinco minutos de projeção, principalmente (na verdade, unicamente) quem estiver por trás de um par de óculos 3D.

Talvez, aquele clichê de que um filme bom funcione com ou sem essa tecnologia então caia por terra exatamente nesse momento, já que somente quem tiver à mão essas três dimensões vai sofrer o choque visual que Cameron pretende obter. Da bolhinha de ar estourando dentro da câmara de criogenia do protagonista até o vislumbre da grandiosidade da nave na qual ele acorda tudo é de cair o queixo. E é exatamente quando se percebe que isso não é nada perto do que vem pela frente que o espectador se dá conta do quanto a história do cinema está sendo escrita diante de seus olhos. Sem um pingo de exagero.

Cameron gastou quinhentos milhões de dólares para mostrar o próximo passo não só do 3D e todas suas possibilidades, mas, mais ainda, no uso de CGI (Imagens Geradas por Computador) ao criar um planeta inteiro só dele, Pandora, com todos detalhes e nuances que um mundo deve ter. Seus habitantes, sua vegetação, sua geografia e tudo mais imaginável pulsando vivamente diante da tela de um modo embasbacante e complexo.

Nem o mais otimista dos espectadores estará preparado para o que verá nessas duas horas e meia de filme depois que a grande nave aterrissar no solo de Pandora e abrir suas portas, assim como ficará surpreso com o alto nível de capricho em todos níveis da produção. Talvez, nunca antes alguém tenha se preocupado tanto em usar o 3D como uma ferramenta de linguagem cinematográfica como Cameron, criando uma sensação de estar mergulhado naquele mundo tão grande, que é fácil, a partir de um ponto do filme, você simplesmente esquecer daqueles óculos.

Em nenhum momento Cameron cai na armadilha de lançar coisas na direção da platéia, mas sim, única e exclusivamente, se preocupa em usar essas três dimensões para abraçar o espectador em um nível de profundidade nunca antes visto no cinema. Tudo na tela parece se colocar dentro uma distância tão precisa diante de você, em camadas tão reais, que certamente farão seus olhos não acreditarem que aquilo tudo está sendo projetado em uma tela chata.

Essa “percepção real” só fica mais evidente ainda diante do mundo criado dentro dos computadores de Cameron, que se mostra decidido a não deixar você perceber o que é real e o que não é, fazendo facilmente você duvidar que aquilo tudo seja resultado de uma pós produção. A força disso é tão impressionante que, não só toda ambientação daquele mundo te fará acreditar no que está vendo, como a dos verdadeiros protagonistas do filme, os Na´vi, seres azuis e esguios em seus três metros de altura que habitam aquele planeta. Cameron tem a convicção de seu trabalho, e a certeza de seu acerto, refletidos na coragem de deixar um tempo enorme de tela para esses personagens em CGI, ainda mais humanoides, já que, quanto mais vezes o espectador ver aquelas figuras, mais tempo ele terá para procurar suas imperfeições, o que se torna impossível de colocar em prova. Como se o diretor não só desse a cara a tapa, como ainda desse um espetáculo.

Além de uma população Na´vi diferenciada entre si, com características peculiares e personalidades próprias, tanto seus movimentos corporais quanto faciais parecem ganhar uma fluência especial, tão verdadeira que chega a chocar diante de sua presença. Os habitantes de Pandora se mostram muito mais que bonecos controlados por computador, porém muito pelo contrário, seres vivos com expressões coerentes e emoções, que transbordam não só por seus olhos, mas por seus gestos perfeitos. É lógico que Cameron sabe exatamente no território que está pisando, por isso, não esperem uma interação tão grande entre os atores reais e, tanto os Na´vi, quanto outros habitantes mais selvagens do planeta, sabendo que tais encontros poderiam prejudicar o que se vê na tela, mas esse truque acaba passando despercebido.

E é também com essa mesma habilidade que Cameron hipnotiza o público o bastante afim de não deixar ninguém enxergar as enormes fraquezas de um roteiro sem um mínimo de esforço para atingir nada de diferente, dirigindo sua trama em um piloto automático sem surpresas até o último fio da trança de seus Na´vis.

Na´vi

Sem vergonha nenhuma de ser politicamente correto ao extremo, o roteiro, também de Cameron, passeia por uma certa critica a própria política externa nos Estados Unidos, mostrando os humanos como uma força imperialista, que não poupará esforços armamentistas para dizimar uma população de nativos atrás de suas riquezas minerais, onde Jake Sully (Sam Warthington) é um soldado paraplégico que toma o lugar de seu irmão morto em um projeto onde passa a comandar um corpo Na´vi como seu Avatar. É lógico que de dentro de uma piscina de estereótipos ele terá que viver dentro desses dois mundos mesmo sabendo que, inevitavelmente, irá escolher um dos lados diante daquela batalha final apoteótica que todos esperam ver, assim como, no meio de tudo isso, o espectador ainda terá que aguentar uma daquelas histórias de amor proibido clássico, chatinha e sem muita profundidade, que, por sorte, é dizimada por suas qualidades visuais e pouco incomoda.

E essa é a grande verdade, Cameron cria uma história mastigada, (ainda que muito bem costurada no que se propõe), para simplesmente deixar o espectador relaxado o suficiente para apreciar aquele mundo grandioso que ele criou. Fazendo de Avatar não o melhor filme, da década, nem do ano, e provavelmente nem do semestre, mas sim um filme que se tornará inesquecível por saber fazer o melhor uso que 3D já viu.

Uma oportunidade perfeita para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de aproveitar tal tecnologia saírem correndo para o cinema 3D mais próximo, definitivamente não para apenas ver um filme, mas para ter uma experiência inesquecível.


Avatar (EUA/GB, 2009) dirigido James cameron, com Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodrigues, Givanni Ribsi


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6 Comentários. Deixe novo

  • […] que tudo estava normal demais, sem nem aquelas profundidade que o senhor conseguiu fazer no ¿Avatar¿ (onde tinha um monte de camadas e era super legal e bonito) e muito menos aquelas brincadeiras […]

  • […] filme foi escrito por três pessoas: James Cameron (obcecado por Avatar há uma década), Laeta Kalogridis (da série Altered Carbon) e Robert Rodriguez (de Sin City). […]

  • […] dez, somente dois deles não são uma continuação ou refilmagem. E se levarmos em conta que Avatar irá ganhar algumas sequências e não é a primeira vez na história do cinema que alguém contou […]

  • […] o macaco Cesar, vivido através da Captura de Movimentos (semelhante à técnica usada em Avatar) pelo mesmo Andy Serkis que já esteve na pele de um outro símio na refilmagem de King Kong e deu […]

  • Vinicius Carlos Vieira
    07/01/2010 12:00

    faço do Hneto minhas palavras, e crio o adendo que essa abordagem que está se tornando "popular" mostra ainda uma certa falta de criatividade dos roteiros, um novo lugar comum que provavelmente vai ser usado até encher a paciência…

  • Além dos, realmente fascinantes, efeitos visuais AVATAR de James Cameron traça sem metáforas sutis uma crítica social que envolve desde a preservação da natureza até o respeito às diversidades culturais (com referências evidentes a conflitos recentes e invasões históricas), elevando a discussão para mais que mero entretenimento. Em outro filme lançado este ano, DISTRITO 9, já tinha sido abordada a segregação na África, ainda que seu diretor Neill Blomkamp negue, e na refilmagem de O DIA EM QUE A TERRA PAROU o extraterrestre Klaatu tinha a missão de destruir a humanidade devido ao mal uso que fizemos do planeta, mensagem que os “filmes catástrofes” costumam explorar. Num passado não muito distante os grandes vilões cinematográficos de ficção científica eram alienígenas e criaturas monstruosas, agora o perigo é outro (embora sempre tenha sido o mesmo). Em tempos de COP15 o ser humano, enfim, foi promovido nas telas de ameaçado à ameaça.

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