Al Pacino

Cinebiografia | Al Pacino: De Poderoso Chefão a Tony Montana


[dropcap]P[/dropcap]oucos atores têm um quantidade tão grande de trabalhos e personagens inesquecíveis quanto esse cara nascido em Manhattan, filho de uma família italiana e batizado Alfred James Pacino. São poucos também que podem afirmar terem trabalhado com quase todos grandes diretores de seu tempo.

Sua estreia no cinema, porém, não foi pelas mãos de um desses mitos. Na época que encarnou Michael Corleone no filme de Francis Ford Coppolla, Al Pacino já tinha feito dois filmes, um deles em 1971, Os Viciados, no qual interpretava um “junkie”, papel que chamou a atenção do diretor e o levou para dentro da família Corleone. Muito embora ele parecesse ter nascido para esse papel.

Após se separar do pai, viveu com a família da mãe, um casal de imigrantes italianos vindos, curiosamente, de um pequeno povoado na Sicília chamado Corleone. Cresceu no Bronx rodeado de tudo que poderia lhe fazer mal na época e não economizou encrencas, fumou desde os nove anos e com 13 já bebia e passara para a maconha. Na mesma época se destacou no Baseball e por muitos, antes de se tornar “Al”, ficou conhecido como “Sonny” (para quem não entendeu a referência, “Sonny” é o nome do irmão de seu personagem em O Poderoso Chefão).

Perto dos 17 resolveu se tornar ator enquanto via alguns de seus amigos próximos tomarem outro rumo e morrem de overdose. Trabalhou de mensageiro, zelador, entregador, recepcionista e mais o que aparecesse para conseguir bancar seus estudos. Sua primeira tentativa vou justamente no famoso Actors Studio, a mais renomada escola de atuação dos Estados Unidos. Foi recusado, perdeu o emprego, chegou até a dormir na rua, mas conseguiu entrar no Herbert Benghof Studio, onde estudou por quatro anos.

“Justamente”, pois depois desse período, voltou ao Actor Studio, conseguiu ser aprovado e hoje é um de seus presidentes (junto com Harvey Keitel e Ellen Burstyn). Ainda na década de 60 todo esse esforço deu resultado e Pacino se tornou um sucesso nos palcos mesmo enquanto fazia alguns pequenos papeis para a TV e cinema. Chegou até a ganhar um Tony em 1970 por The Basis Tranning of Pavlo Hummel e se tornar um sucesso maior ainda em sua montagem de Ricardo III no mesmo ano.

Uma Proposta Irrecusável

E tudo isso o levou a seu (para muitos) melhor papel. Para que Al Pacino se tornasse Michael Corleone, herdeiro da família mafiosa de Nova York, Coppola enfrentou o estúdio, que queria entregar o papel para Jack Nicholson, Robert Redford ou Warren Beatty, três dos galãs mais festejados da época. Ainda antes de Pacino o estúdio forçou até a entrada do “desconhecido” Robert DeNiro (tinha estreado nos cinemas alguns anos antes com filmes menores como A Cobrança e Festa de Casamento, no qual “assinava” até Robert Denero). Enfim, mesmo “baixinho demais para o papel”, Pacino entrou para a história.

Al Pacino

Ainda fica para a mesma (história) sua indicação ao Oscar, que não compareceu como protesto diante da categoria de Coadjuvante, já que afirmava ter mais tempo em tela que Marlon Brando, seu pai no filme e que acabou não só sendo indicado, como levou o prêmio. Ironicamente, Brando também não compareceu à Premiação, boicotando-a em detrimento dos nativos americanos que eram maltratados por Hollywood.

Al Pacino voltaria ao papel de Michael Corleona em O Poderoso Chefão II, em 1975, mas nesse meio tempo encarnou mais um de seus mais icônicos personagens, o que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar. Frank Serpico, do filme homônimo Serpico, dirigido por Sidney Lumet contava a história real de um policial que trabalhou infiltrado dentro da própria policia para botar abaixo um enorme esquema de corrupção.

“Litou Frend”

Na sequência, Pacino embarcou no desafiador O Espantalho, com Gene Hackman, e viu o filme ganhar a Palma de Ouro em Cannes, mas foi em 1974 que deu ao cinema mais um de seus personagens clássicos. O ator não só voltava a trabalhar com Lumet, como novamente interpretava um personagem real em Um Dia de Cão, Sonny, um ladrão de bancos com um final trágico que fez de tudo para conseguir o dinheiro para a cirurgia de mudança de sexo de seu namorado. O filme se tornou um clássico maior ainda que sua outra parceria e lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar.

Completou os anos 70 com quatro indicações ao Oscar e nenhuma vitória, o que não lhe impediu de começar a década seguinte com um de seus papeis mais corajosos em Parceiros da Noite, de William Friedkin, diretor ainda na crista da onda por seus trabalhos em O Exorcista e Operação França. O filme mostrava um policial infiltrado no submundo sadomasoquismo gay de Nova York em busca de um assassino serial. Um trabalho desafiador, repleto de camadas e incrível, mas que nem chegou perto de seu próximo personagem.

Scarface Al Pacino

Em 1983 voltou a encarnar um mafioso, assim como continuou a colecionar grande diretores em seu currículo. Depois de Coppola, Lumet e Friedkin, Pacino encontrou Bria De Palma para reimaginar o clássico de Howard Hanks de 1953, Scarface. Mas seu novo mafioso, tanto não tinha nada do papel clássico do Tony original vivido Paul Muni, quanto não tinha nada do outro mafioso que Pacino eterninizou, Michael Corleone. Pelo contrário, o novo protagonista de Scarface, Tony Montana, era um cubano espalhafatoso, violento, caótico e desumano. Pacino fez dele uma força da natureza sem controle e o colocou no inconsciente coletivo de nove entre dez pessoas com suas “little fried” (ou melhor “litou frend”).

Enfim o Oscar

Na mão de um monte de outros diretores menores, o resto dos anos 80 não foi tão espetacular assim para Al Pacino. E mesmo na década seguinte, chegou a ela com a desastrosa adaptação de Dick Tracy em 1990, Pacino ficou o papel do vilão Big Boy Caprice, que roubava a cena, lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar, mas que viu o filme ser completamente esquecido.

Logo em seguida, Pacino voltou à terceira parte de O Poderoso Chefão em uma atuação tão incrível e inesquecível como as outras duas. Mas foi só dois anos depois que o ator viu sua sexta indicação ao Oscar virar uma vitória pelo cego de Perfume de Mulher, que, ironicamente, não era dirigido por nenhum grande nome de Hollywood, mas sim pelo pouco celebrado Martim Brest, que antes disso tinha dirigido Um Tira da Pesada e o esquecível Fuga à Meia-Noite.

Anos 90… e ainda mais clássicos

Esse começo de década empolgante talvez tenha servido então de combustível para que Al Pacino se tornasse um dos mais prolíficos e incríveis figuras dos anos 90 em Hollywood.

Em 1993 voltou a trabalhar com Brian De Palma e encarnou um outro mafioso, dessa vez deixando de lado a ensolarada Miami e indo para a soturna Nova York em O Pagamento Final. De seu Michael Corleone, Pacino emprestou aquela vontade inicial de se manter longe do crime e criou um Carlito Brigante que ajudou De Palma a criar mais um filme seminal sobre o submundo do crime.

Um par de anos depois, Pacino enfim encontrou nas telas Robert DeNiro, que no segundo Poderoso Chefão interpretou o pai de seu personagem (sem terem se encontrado na tela) e desde lá percorreu um caminho tão incrível e celebrado quanto o de seu filho no filme de 1975. A responsabilidade de colocar os dois juntos ficou com mais um grande diretor, e Michael Mann surpreendeu a todos ao resumir o único encontro entre os personagens com o respeito que lhes é devido: praticamente sem influenciar esse momento em um esquema de plano e contra-plano tão simples e objetivo que acabou entrando para a história. Mas Mann só se deu ao privilégio desse tipo de opção por ter em mãos uma história que colocava ambos frente a frente em todo o resto de Fogo contra Fogo, mesmo sem se encontrarem.

Advogado do Diabo Al Pacino

Mas tal referência talvez ficasse de lado para uma geração mais nova e que talvez nem tivesse o contato devido com “O Poderoso Chefão”. Ainda assim em 1997, Al Pacino se tornou a referência necessária que a década precisava. Naquele momento, o desempolgante Keanu Reeves vinha de sucessos em Bill e Ted, Caçadores de Emoção e Velocidade Máxima, então Advogado do Diabo era apenas mais uma oportunidade de faturar uma pilha de dinheiro com ele, se não fosse o próprio Diabo. Pacino fez então do próprio (na verdade um tal de John Milton, no filme) em um dos momentos mais inesquecível do cinema na década.

Para fechar os anos 90, Al Pacino ainda voltou a trabalhar com Oliver Stone no drama sobre futebol americano Um Domingo Qualquer e no tenso e indicado a várias Oscars O Informante, de Michael Mann. Ainda que, muito provavelmente, dois papeis (e filmes) menos lembrados que muitos outros da mesma década, mas ainda assim dois exemplos incríveis do quanto o ator rende muito mais ainda na mão de grande diretores.

Dos escorregões à TV

Toda essa primazia talvez não tenha continuado nos anos 2000. Entre muitos e descartáveis trabalhos, como Simone, O Novato, 88 Minutos, Contato de Risco e Treze Homens e um Novo Segredo, um dos poucos destaques dessa primeira década acaba ficando com um filme igualmente menor, mas que acaba se destacando por um punhado de detalhes.

Insônia era o terceiro filme de Christopher Nolan, um thriller tenso e pouco movimentado, mas que deu a oportunidade do ator criar esse policial esmagado por esses dias sem noite, um erro e um assassino frio vivido por Robin Willians. Ainda que deixado de lado, o filme não decepciona em nenhuma dessas três pontas: Nolan, Pacino e Willians.

E mesmo que o filme não seja lá essas coisas, se comparado com os escorregões que completaram a década, o filme é uma obra de arte. E entre esses erros, curiosamente, está o terceiro encontro entre Pacino e DeNiro no equivocado As Duas Faces da Lei.

You Dont Know Jack Al Pacino

Mas essa fase ruim talvez tenha encontrado um lugar para se redimir na TV. Enquanto Pacino tropeçava nos cinemas, o ator teve a oportunidade de participar da elogiada e premiada mini-série Angels in América, dirigida por Mike Nichols e ainda do telefilme You Don´t Know Jack, onde interpretava o médico Jack Kevorkian, famoso por ter ajudado doentes terminais a se matarem. A cinebiografia foi dirigida pelo tarimbado diretor Barry Levinson, tão experiente quanto David Mamet, que dirigiu Pacino em mais um filme para a TV, Phil Spector, outra história real, dessa vez centrada no julgamento do produtor musical e seu relacionamento com sua advogada nesse período.

Três momentos de luz em um período que poderia ser esquecido, não coincidentemente um trio de grandes diretores e três personagens incríveis. O que nos leva a ter a certeza absoluta que Al Pacino quando têm em mãos o que precisa, faz como poucos aquilo que todos mais procuram no cinema: um ator incrível fazendo um trabalho incrível.

Cinebiografia selecionada:

O Poderoso Chefão (1972)
Espantalho (1973)
Serpico (1973)
O Poderoso Chefão II (1975)
Um Dia de Cão (1975)
Justiça para Todos (1979)
Parceiros da Noite (1980)
Scarface (1983)
Vítimas de Uma Paixão (1989)
Dick Tracy (1990)
O Poderoso Chegão III (1990)
Frankie & Johnny (1991)
Perfume de Mulher (1992)
O Pagamento Final (1993)
Fogo Contra Fogo (1995)
Donnie Brasco (1997)
O Advogado do Diabo (1997)
O Informante (1999)
Um Domingo Qualquer (1999)
Insônia (2002)
Simone (2002)
O Novato (2003)
Contato de Risco (2003)
Angels in America (mini-série) (2003)
O Mercados de Veneza (2004)
Treze Homens e Um Novo Segredo (2007)
As Duas Faces da Lei (2008)
You Don´t Know Jack (2010)
Phil Spector (2013)
O Último Ato (2014)
Não Olhe Para Trás (2015)

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