12 Horas

Depois do sucesso de À Deriva em festivais pelo mundo, Heitor Dhália acabou virando alvo de Hollywood. Três anos se passaram e 12 Horas é o resultado dessa empreitada internacional do diretor brasileiro, mesmo que um não acabe refletindo o outro.

12 horas12 Horas acaba então sendo um suspense comum, daqueles que poderiam ser feitos por uma enormidade de anônimos do cinema americano, e o nome de Dhália, ali nos créditos iniciais, parece mais ser um detalhe do que uma assinatura.

Não que esse suspense escrito por Allison Burnett pudesse tomar rumos tão diferentes, já que ela mesma não foge de ser uma daquelas operárias comuns dessa “fábrica de filmes”, engatando textos sem expressão atrás de outros com menos força ainda, mas que, curiosamente, caem no colo de elencos interessantes, como os desconhecidos O Resgate de um Campeão, o romântico Banquete do Amor, o outro suspense Sem Vestígios e até o mais recente Anjos da Noite: Despertar.

Mas o problema não é de Burnett, acostumada com esse tipo de mediocridade narrativa que sustenta os pilares de Hollywood, mas sim da própria indústria em desperdiçar um talento como o de Dhália, claramente segurado por rédeas e não impedido que ele (diretor) e 12 Horas possam ser uma única pessoa.

Na história, Amanda Seyfried (que parece ser a presença “famosa” que não permite que 12 Horas tenha um destino ignorado pelas bilheterias) é Jill, uma jovem com um trauma, já que há menos de um ano foi sequestrada e mantida em um cativeiro/buraco no meio de uma floresta, o problema é que ninguém acredita que isso tenha acontecido e no momento em que sua irmã também desaparece, Jill é a única a crer que tudo pode estar acontecendo de novo.

É verdade que Dhália trata sua personagem com sinceridade e em nenhum momento aponta para a veracidade ou mentira do acontecido, deixando sempre que a história caminhe por essa dúvida onde a protagonista pode ser uma completa maluco ou estar falando a verdade, e essa mesma sinceridade ainda é seguida pelo roteiro que acerte em, diante de tantas possibilidades excêntricas que poderiam surgir como “aquela surpresa” no final de tudo, ter a consciência de (surpreendentemente) seguir o caminho que a trama mais merece. Aquele que melhor trata a inteligência de seu espectador, até por que, no resto do tempo, ela não é tão respeitada assim.

Se o diretor se esforça em criar essas possibilidades, o roteiro de 12 Horas parece ignorar isso e optar por uma linha em que as únicas pessoas que não acreditam nela são os policiais, que, pior ainda, só aparecem para repetir essa mesma ideia de que Jill está inventando toda essa trama, o que não permite que ninguém no cinema acredite que isso não tenha acontecido, já que a existência de alguns flashbacks reinteram mais ainda a verdade dela.

Resumindo, com todos os indícios que ela junta (em uma pasta surrada e cheia de clichês) seria mais fácil acreditar nela, mas ai, 12 Horas não teria momentos completamente desnecessários como uma perseguição sem a mínima função e nem precisaria ter a presença completamente inútil do personagem vivido por Wes Bentley, um novato na polícia que não serve para nada.

12 Horas Filme

E é tão evidente o esforço de Dhália em ser maior do que consegue, que, além de praticamente sumir por trás de sua câmera, acreditando e defendendo a história em busca de uma unidade, mais do que uma assinatura, consegue ainda impor alguns planos baixos interessantes (Spoiller!), muito provavelmente predizendo a localização da irmã (fim do Spoiller!), assim como consegue tirar da fraca Amanda Seyfried, se não uma atuação memorável, pelo menos uma que dê valor ao trabalho da atriz, que aqui decide fugir completamente de qualquer sensualidade e beleza que facilitaria seu resultado final (e até uma nudez em sombras em um momento no começo do filme, passa despercebido e serve muito mais como uma apresentação da personagem), assim como não permite nenhum clichê bobo em relação a seu estado mental (nem dela nem na hora de refletir o problema com álcool da irmã).

Resumindo, Dhália, mesmo diante de um material comum, se esforça para construir algo honesto dentro de todas as limitações narrativas, que até empolga na parte final, onde até o último segundo “12 Horas” esconde se é um suspense concreto ou psicológico, e faz disso sair a surpresa e que vai deixar então que o espectador saia satisfeito do cinema. Talvez não aquele espectador que sabe o quando o diretor poderia render mais, como o fez nos ótimos Nina e O Cheiro do Ralo, mas aqueles que forem ao cinema somente em busca de um suspense coerente e pasteurizado, médio, mas não medíocre.


Gone(Bra, 2012) escrito por Allison Burnett , dirigido porHeitor Dhalia Amanda Seyfried, Daniel Sunjata, Jennifer Carpenter, Wes Bentley, Michael Paré e Emily Wickersham.


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